segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A 4ª Conferência Jaime Wright Na Faculdade 2 de Julho

A Faculdade 2 de Julho, já octogenária, realizou a sua 4ª Conferência Jaime Wright, homenageando os promotores da Paz e dos Direitos Humanos. O Reverendo Wright notabilizou-se no Nordeste e Sul do país como co-promotor do grupo Clamor, na intransigente luta pela defesa dos Direitos Humanos, no auge da ditadura militar e como expoente do Projeto Brasil Nunca Mais, ao lado do Cardeal D. Evaristo Arns, que foi Arcebispo de São Paulo, e que carinhosamente chamava o Pastor de “meu bispo auxiliar”, é o que informa o folder da Conferência. A CESE, Coordenadoria Ecumênica de Serviço, teve na equipe de fundação o mesmo Pastor.
A Fundação 2 de Julho, que engloba o Colégio e a Faculdade, é norteada por princípios ecumênicos e tem como parâmetro uma linha libertária, a preocupação com a justiça, a plena cidadania e o bem comum. Ela se deixa orientar pelo interesse em registrar para as gerações futuras exemplos de vidas dedicadas à construção da paz e da conquista plena dos direitos humanos. Nessa perspectiva, o Conselho de Curadores, acolhendo essa proposta da Faculdade 2 de Julho, resolveu instituir o Prêmio Jaime Wright de Promotores da Paz e Direitos Humanos, a ser conferido a pessoas e instituições de destaque no cenário nacional, na defesa dos Direitos Humanos e na promoção da cultura.
Este ano os premiados foram: Prêmio Personalidade: a advogada Joênia Wapichana recebeu a homenagem pela sua atuação na causa indígena e pela notoriedade internacional em defesa da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Prêmio Institucional: André Feitosa Alcântara representou o Centro de Direitos Humanos de Sapopemba Pablo González Olalla (SP), Homenagem Especial: foi para Diva Santana (Grupo Tortura Nunca Mais), de Salvador, pela trajetória de vida e envolvimento na Campanha Memória e Verdade, que trata da anistia, processos de reparação e luta contra a impunidade dos torturadores durante o regime militar.
A Conferência se realizou de 22 a 24 de outubro e teve uma vasta programação. A abertura foi realizada com a presença de Frederico Fernandes, Superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos, e de Maria Luiza Marcílio, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP. Os dias seguintes foram enriquecidos com a presença de Paulo Carbonari, Conselheiro do Movimento Nacional de Direitos Humanos e professor de filosofia no Instituto Berthier em Passo Fundo / RS, com o tema “A evolução do Conceito de Direitos Humanos”. A Conferência também contou com a presença de Antonio Carlos Fester, da Comissão Justiça e Paz /SP e de Sérgi Rovira, da Fundacion Cultura de Paz, Espanha, sob o tema “Direitos humanos no Brasil: dilemas e perspectivas”.
Houve um grande enriquecimento com as Mesas Temáticas que trouxeram abordagens de interesse e de atualidade para os estudantes. Os temas foram: Desigualdade Social, Orientação e Discriminação Sexual, Diálogo Interreligioso, Legalidade e Legitimidade, Direito à Informação, Direitos Econômicos, Responsabilidade com a Comunidade, A Evolução dos Direitos da Mulher, Direito ao Trabalho decente, Diversidade Cultural, Acesso aos Serviços Públicos, Meio ambiente, direito à Moradia.
Na Mesa Diálogo Interreligioso, que foi mediada por mim, houve a presença do Pai Pequeno Eldon Tata Kamunguengue, do Terreiro S. Roque no Cabula, que é um Terreiro da linha Angola. Ele apresentou os grandes aspectos que caracterizam os Terreiros dessa tradição, com seus Inquices ( Orixás). E destacou o Mito da Criação que coloca no centro a figura da mulher. Por isso em cada Terreiro dessa linha há uma espirradeira, mas as mulheres são proibidas de tocar nessa planta pois ela é abortiva. E isso é uma proibição do próprio Zambi. Explicou também que o Terreiro está localizado no Bairro do Beiru; esse foi o nome de um escravo ( Beiru ou Quibeiru ) que aqui chegou através do Rio de Janeiro , comprado pelo senhor Hélio Silva Garcia, e que criou um dos primeiros Quilombos da região.
O representante evangélico foi o Pastor Djalma Torres, que é Pós-Graduado em História e Cultura Afro-Descendente, é Presidente do Cepesc, Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão e da Fraternidade de Igrejas Evangélicas do Brasil. Na sua fala destacou que há uma onda fundamentalista no Catolicismo e no Protestantismo, com acentuados recuos no diálogo ecumênico. Também frisou que os grandes teólogos cristãos estão fora das igrejas oficiais. Lembrou Hans Kung com seu livro “Ser cristão”, onde diz que não haverá paz no mundo enquanto não houver paz nas religiões. Também lembrou, a propósito da explosão das Igrejas Neo-Pentecostais, que “a Igreja não é um negócio, algo para se ganhar dinheiro, mas sim um espaço de apoio humano-espiritual e de paz”. Outro aspecto importante lembrado pelo Pastor foi de um erro que acompanha tanto o Catolicismo como o Protestantismo: quando se fala em Teologia, ambos os grupos só pensam no Cristianismo – mas há outras Teologias, como a das Religiões Afras. Ressaltou a importância das religiões não-cristãs no mundo. “Um dos pressupostos do cristianismo”, disse ele, “ é que representa a única religião verdadeira. E onde ficam os valores religiosos da China e da Índia, com suas religiões milenares, onde o cristianismo representa apenas uma parcela ínfima da população?”.
Essa Mesa temática teve uma participação numerosa de estudantes a ponto do horário ser esgotado.
De parabéns a Faculdade 2 de Julho por proporcionar para a comunidade acadêmica mais um evento que dá à Academia a categoria de “Universitas”.

Quatrocentos anos de muita fé.No jubileu da Purificação


Santo Amaro está em festa. A paróquia da Purificação celebra seus quatrocentos anos de criação : 1608 – 2008. A preparação foi feita com muito ardor e devoção. Houve a tradicional novena, com eloqüentes pregadores, grande participação do povo e tudo culminando com os dois dias de festa, o 18 e 19 de outubro. Mas, sobretudo, quem presidiu as festas foi o Senhor do Bonfim, que foi transportado de Salvador e lá permaneceu venerado pelo povo fiel. No último dia, houve a missa solene concelebrada por cerca de 20 padres, e Mons. Walter Pinto presidindo todo o conjunto dos festejos. Mas não podia faltar, no encerramento a palavra do filho dileto daquela cidade, Pe. Sadoc, considerado o “guardião da palavra”, que abrilhantou com seu verbo fácil, eloqüente e devoto, o encerramento dos festejos. Na missa foi oferecida uma cruz a todos os padres presentes. Esse foi um sinal da cruz missionária que circulou naquelas paragens nesses quatro séculos de evangelização. Nela há uma inscrição significativa : ”A missão continua – quatrocentos anos de luz”.
Nesse contexto dos festejos, está sendo lançado um livro do seminarista santamarense Adriano Portela, intitulado : ”Informes históricos da Paróquia de Nossa Senhora da Purificação – Itinerário secular de uma missão”. Nos agradecimentos o jovem escritor agradece aos padres Edílson Bispo Conceição, pároco da infância dele, e Hélio Cezar Leal Vilas-Boas, hoje pároco de Cachoeira, grande incentivador dessa pesquisa.
O sumário contém os principais itens de que a pesquisa trata: 1- a Paróquia da Purificação e o contexto eclesial do período de sua criação; 2- Os padres santamarenses : algumas contribuições da Paróquia à Igreja da Bahia; 3- A devoção mariana no conjunto arquitetônico da matriz da Purificação; 4- A cidade de Santo Amaro e a paróquia da Purificação; 5- Os párocos da Purificação e os seus auxiliares no governo da Paróquia; 6- A Purificação e os seus benfeitores salutares; 7- A ação pastoral da Purificação.
A apresentação é feita pelo Pe. Sadoc que salienta :”A verdade sempre nos libertará, por isso, a pesquisa histórica é muitíssimo benemérita, quando é norteada pela busca da verdade. E, para ser calcada na verdade, importa que o pesquisador coloque, a serviço da verdade, sua mente, seu coração, sua justiça. Gostei e muito aprendi com a leitura dessa pesquisa. Segundo Cícero, a história é mestra da vida, por isso é louvável todo empenho por manter a história viva”.
No prefácio, o pároco, Mons. Walter, além de salientar a importância do percurso histórico que o autor faz, menciona o trabalho pastoral dos seus predecessores:”Fiz um deleitoso passeio pela história desta bonita Paróquia, da sua matriz tão bela, na qual reina majestosa a Senhora da Purificação,cercada por obras de arte de todos os níveis, como também pelo trabalho pastoral desenvolvido por tantos presbíteros, desde o provável primeiro deles, Pe. Antônio Fernandes, até Cônego Hélio Vilas-Boas, meu predecessor. Foi exatamente deste capítulo que mais gostei, pois é sempre do meu interesse o que fizeram, e como escreveram a história, os que vieram antes de mim, no exercício do ministério pastoral”.
A bela matriz, que mais parece uma catedral, teve um percurso. A sede da paróquia da Purificação instalou-se em outras igrejas da cidade. Passou do Engenho de Sergipe até chegar à Praça da Purificação. E tudo se transporta para as origens primeiras no tempo da colônia. A primeira igreja matriz surgiu na sesmaria que pertencera a Mem de Sá, terceiro Governador Geral do Brasil (1558-1572). Quando essa Paróquia foi criada, a Diocese de Salvador cobria boa parte da colônia portuguesa estabelecida no Brasil, ao lado da Prelazia do Rio de Janeiro, que havia sido desmembrada de Salvador em 1576.
De todos esses momentos históricos, sublinhados pelo livro ora editado, essa comemorações querem nos aproximar.
Não há festa jubilar sem um hino que traduza o sentido, o conteúdo e a beleza das celebrações. A foto da capa do livro da liturgia foi do Pe. Rogério Marcos, pároco da igreja do Rosário. O hino do jubileu coube a Cleusa Maria Cunha, da família do Pe. Sadoc, uma santamarense da gema e que por onde passa, espalha o perfume de sua voz. Por isso, St° Agostinho diz que quem canta reza duas vezes. Seu hino é um convite à oração e ao louvor.

Refrão : “Quatrocentos anos de muito amor. Quatrocentos anos de muita luz. Quatrocentos anos de muita fé. Na purificação da Mãe de Jesus”.
1-“ Purificação de Maria, da mais profunda humildade, lição em todos os tempos ensinando a humildade.
2- Levava Jesus nos braços e apresentou-o no tempo, ela concebida, sem pecado, Ele da santidade o exemplo.
3- O menino esperado Messias, nas mãos frágeis de Simeão, que iluminado o proclamou sinal de contradição.
4- E reservou para Maria antecipados sofrimentos, espada que a faria ser mártir de cada momento.
5- Em terras de Santo Amaro da Purificação, a maior glória é sermos todos escolhidos para construir a sua história.”

A chance de nascer no dia de S. Francisco.Nos 122 anos do Dr. Ernesto Simões Filho


O fundador do jornal A Tarde nasceu em Cachoeira, no dia 4 de outubro de 1886 . Nascer em Cachoeira já é um privilégio pois ela é uma cidade representativa no Recôncavo Baiano. Lá surgiram os primeiros engenhos, portanto, a presença dos escravizados se fez marcante não apenas de forma numérica mas, sobretudo, na qualidade. Quem se interessa em estudar as religiões de matriz afra tem,inevitavelmente, que passar por lá para “beber” na fonte”. Nessa cidade há resquícios dos candomblés mais antigos, certamente proto- candomblés. Pois bem, ao lado dessa moldura que Cachoeira representa, um dos bahianos , dos mais ilustres, enriquece essa cidade tendo lá nascido.
E como se isso não bastasse, ele nasce no dia de S. Francisco de Assis, dos santos da Igreja Católica, um dos mais estimados.
A memória de Dr. Simões Filho, foi renovada numa Missa celebrada no Campo Santo, a pedido de sua família. Lá estavam presentes sua filha,D. Regina Simões de Mello Leitão, Dr. Renato Bocaiúva, diversos outros membros da família, integrantes da diretoria do Jornal, como Dr. Edivaldo Boaventura, jornalista. Florisvaldo Mattos, amigos da família, como o governador Roberto Santos.
Na Missa foi lembrada a importância de S. Francisco, um santo universal, que reintegrou o Cristianismo católico com suas origens, perdido em disputas temporais, especialmente nos séculos XII e XIII. Dessa forma, o cristianismo volta ao seu momento primeiro, aquele que o Gênesis descreve no momento da narrativa da Criação, em forma de parábola :” E Deus viu que tudo era bom”- para cada obra que Deus criara, volta esse refrão, mostrando a origem do criado, que é o próprio coração de Javé.
Francisco reintegrou o que parecia irreconciliável : criatura e Criador - para ele tudo é “irmão” : o sol, a lua, a água, o lobo, até a morte ... temida por crentes e descrentes.
Temos muito a aprender com S. Francisco. – ele é sempre atual.Numa de suas cartas escrita a todos os fiéis, que tem como título :”Temos de ser simples, humildes e puros”, ele diz:
“Sendo Cristo, incomensuravelmente rico, quis Ele, no entanto,junto com sua santíssima Mãe, escolher a pobreza (...) Ó como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho:’Amarás o Senhor teu Deus e ao próximo como a ti mesmo’(...) Tenhamos caridade e façamos esmolas, já que essas lavam as almas da nódoa do pecado. Os homens perdem tudo que deixam neste mundo;consigo somente levam a paga da caridade e as esmolas que fizeram; destas receberão do Senhor o prêmio e justa recompensa”.
Mas temos também muito a aprender com Dr. Ernesto Simões. Filho. Sua vida continua nas obras que realizou.
Ele teve uma carreira brilhante : visualizou a Bahia numa perspectiva utópica . E aqui utopia não tem o significado do senso comum, isto é, de visionário, irrealista, mas é no genuíno sentido grego, que significa alguém que viu para além do seu tempo. E foi, de fato, isso o que aconteceu com ele. O jornal foi criado em 15/10/1912. Já de início, o jornal trouxe conceitos de renovação, anúncios classificatórios, campanhas editoriais. Em 1913 trouxe um anúncio com uma ilustração fotográfica sobre um filme intitulado “Um salto para a morte”. No aspecto tecnológico em 1914 , modernizou a gráfica importando da Alemanha uma impressora, a Koening-Bauer para substituir a impressora Marinori.
Dessa forma o jornal se tornou um espelho da Bahia nos seus múltiplos aspectos : do cultural ao político, sem deixar de passar pelo social.
E ele também se notabilizou pela carreira política, e foi político combatente. Sua combatividade levou o jornal a uma independência, o que gerou credibilidade até os nossos dias. E o jornal se tornou um canal de liberdade de expressão – essa é a sua vocação que vem dele, do percurso de vida que teve, na elegância, não apenas no vestir, nos modos de falar, no agir.“ A política nos nossos dias não prima pela elegância “, disse Samuel Celestino (coluna do dia 04/10/08 ) – mas ele, sem deixar de fazer política, nunca perdeu a elegância. O jornal tem também uma dimensão ecumênica : é cenário para todas as religiões – lá fala desde a Baia de Todos os Santos até a Bahia de Todos os Orixás .
Concluo lembrando S. Francisco, mas com uma citação que não é dele, é de Pitágoras, (VI a. C.). Mas o valor da busca da verdade ultrapassa os séculos e acompanha a trajetória dos homens e mulheres de bem – e há pessoas carismáticas, como Francisco, que retomam esses valores, em todos os tempos e em todas as religiões. Diz a citação:
“Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados , não conhecerá a saúde e nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor ...”

POLÍTICA, SERVIÇO E AS ELEIÇÕES


Estamos às vésperas das eleições e esta é uma oportunidade para uma reflexão e um assumir esse direito básico – o de voto – numa perspectiva consciente e cidadã. Cada pessoa que vota quer ser representada, e bem representada, naquela instância , executiva ou legislativa. São muitos os descaminhos que permeiam uma eleição. Desde as propostas do candidato quando apresenta sua plataforma política, como a maneira que se impõe ao seu eleitor comparando-se ou denegrindo o seu concorrente, até o que oferece em troca do seu voto. Por causa da falta de consciência sócio-política, muitos eleitores escorregam no imediatismo da troca de votos por alguma benesse. Essa é, infelizmente, a prática que permeia a nossa realidade política.
Mas aqueles que exercem uma autoridade, devem fazê-lo como quem presta um serviço à comunidade e deve ser pautado por princípios ético-morais direcionados à dignidade da pessoa e à lei natural. O exercício da autoridade visa tornar manifesta uma justa hierarquia de valores, a fim de facilitar o exercício da liberdade e a responsabilidade de todos. Os que governam devem ficar sempre atentos a que as regras e disposições que tomam não induzam em tentação, opondo o interesse pessoal ao da comunidade. Os poderes políticos ligados à cidadania podem e devem ser reconhecidos conforme as exigências do bem comum.
O cidadão tem deveres e o primeiro é contribuir com os poderes civis, para o bem da sociedade, num espírito de verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade. Mas, por outro lado, o cidadão está obrigado, em consciência, a não seguir as prescrições das autoridades civis, quando tais prescrições são contrárias às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos da fé que permeia a vida do cidadão.
Toda a comunidade humana tem necessidade de uma autoridade que a governe. A autoridade tem o seu fundamento na natureza humana. Ela é necessária para a unidade da Polis.O seu papel consiste em assegurar, quanto possível, o bem comum da sociedade. Mas como a autoridade não recebe de si mesma a legitimidade moral, por isso não deve proceder de modo despótico, mas agir a favor do bem comum.
De acordo com a natureza social da pessoa, o bem de cada um está necessariamente relacionado com o bem comum. E este não pode definir-se senão em referência à pessoa humana. Por bem comum deve entender-se, de acordo com a Constituição Gaudium et Spes do Vaticano II, “ o conjunto das condições sociais que permitem, tanto aos grupos como a cada um dos seus membros, atingir a sua perfeição, do modo mais completo e adequado”. O bem comum interessa à vida de todos . Exige prudência da parte de cada um, sobretudo da parte de quem exerce a autoridade. Três elementos são essenciais nessa consideração:
- Supõe o respeito da pessoa como tal. Em nome do bem comum os poderes públicos são obrigados a respeitar os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana.
- Em segundo lugar, ele exige o bem-estar social e o desenvolvimento da própria sociedade. O desenvolvimento é o resumo de todos os deveres sociais. Sem dúvida, à autoridade pertence arbitrar, em nome do bem comum, entre os diversos interesses particulares; mas deve tornar acessível, a cada qual, aquilo de que precisa para levar uma vida verdadeiramente humana : alimento, saúde, educação, habitação, cultura, informação conveniente.
- Finalmente, o bem comum pede a permanência e segurança de uma ordem justa. Supõe que a autoridade matenha a segurança da sociedade e dos seus membros.
Tenho alguns amigos que estão concorrendo às próximas eleições. A eles dedico essas reflexões para que sejam os portadores do projeto de uma política maior que sirva aos interesses do bem comum e não aos próprios..
Em Cachoeira o professor Adilson Gomes Souza concorre pela primeira vez à Câmara de Vereadores daquela Heróica cidade. Não foi em vão que sua apoteótica carreata no último domingo levou à cidade sua mensagem de “educação e cultura”, bandeiras com as quais está tão identificado. Também em S. Sebastião do Passé, o Presidente da Câmara, Janser Mesquita concorre à Prefeitura com o seu vice, que é o Pe. Mateus Lima – ele já foi Pároco da cidade e se “desincompatibilizou” para poder concorrer ao cargo eletivo. Janser sofreu um atentado, há um mês atrás : ele foi ”atroplelado” enquanto participava de um comício seu, por um candidato a vereador de partido contrário – sofreu traumatismo craniano, mas, mesmo com o uso de tipóias e colete, voltou a participar das atividades de campanha. Aqui em Salvador, o Presidente da Câmara, Valdenor Cardoso, tem prestado um bom serviço às comunidades da periferia e representa com dignidade os ideais de serviço ao povo. Vereador Silvoney Salles foi, praticamente, um dos primeiros amigos que descobri, ao chegar em Salvador. E o conheci num S. João em Cachoeira. Ele, além de ser um representante das praças de Salvador – e, é bom lembrar, a praça é o lugar da democracia, pois é um direito de todos se encontrarem nela, portanto, é lá que se inicia o conceito da Polis – ele mantém, há quase vinte anos, obras sociais em Mussurunga, com atendimento médico, biblioteca e orientação psicológica, tudo sob a chancela de sua esposa Zenaide .
Que os bons políticos nos representem bem e que abram espaços para as justas reivindicações dos seus representados.
Diz o Catecismo da Igreja Católica:”Se cada comunidade humana possui um bem comum que lhe permite reconhecer-se como tal,é na comunidade política que se encontra a sua realização mais completa” .(1910).

Cosme e Damião Querem caruru

A Faculdade 2 de Julho tem um jornal de distribuição gratuita – são 50 mil exemplares mensais - e já está no seu terceiro número. Chama-se Folha Salvador. Na equipe de reportagem há uma aluna de jornalismo, Euzeni Dantas, que me entrevistou sobre os santos populares Cosme e Damião. Apresento na íntegra o artigo dela com o título em epígrafe.
Setembro é o mês de homenagear os santos gêmeos. Eles são venerados pelos católicos e pelo povo do candomblé. No culto afro eles são chamados de Ibejis (orixás criança), filhos de Xangô e Iansã. No dia 27 de setembro, na Bahia,é costume os devotos enfeitarem suas casas e oferecerem caruru dos sete meninos, acompanhado de vatapá, feijão fradinho,xinxim de galinha e outros quitutes da culinária afra. Não se cortam todos os quiabos em picadinho: sete ficam inteiros, e a pessoa em cujo prato cair um deles rezará uma missa ou terá que oferecer um caruru. Entre as versões sobre a vida desses santos , uma delas conta que os gêmeos atuavam como médicos e se dedicavam aos mais necessitados, não cobrando nada pelos serviços, motivo pelo qual oram chamados “anargyrós”, que significa “ os que não são comprados por dinheiro” – o objetivo principal deles era a conversão dos pagãos à fé cristã. Essa postura chamou a atenção do Imperador Romano Diocleciano, que determinou fossem perseguidos e presos. Por sustentarem a fé cristã, Cosme e Damião acabaram decapitados.
No Brasil a tradição de homenagear os santos gêmeos originou-se a partir do contato entre os ritos católicos e os africanos. Essa tradição se desenvolveu , sobretudo, na aproximação do diálogo entre duas culturas religiosas, a católica branca e a africana.
Esta última tem seus mitos e, dentro deles, há um que encontrou correspondência na tradição católica barroca, que foi a dos Ibejis, os irmãos gêmeos. Então, quando os afrodescendentes viram essa devoção a Cosme e Damião, associaram com a mítica que eles tinham realizado e concretizado com os Ibejis gêmeos.
O dia que antecede a festa é de muito trabalho, pois consiste na preparação dos pratos típicos. Durante o cozimento do caruru, o pranto principal, familiares e amigos fazem rodízio para mexer a comida. Todos querem fazer seus pedidos aos santos. De preceito ou não ( quando é de preceito, existe todo um número determinado de pratos a serem servidos e todo um ritual, na tradição do candomblé), o caruru é sempre medido pela quantidade dos quiabos.
Comida pronta, reza a tradição, os santos são os primeiros a serem servidos. Depois o devoto escolhe sete meninos que são reunidos em torno de uma bacia no chão ou em cima da mesa. Além do caruru,os meninos recebem bolos, muitos bombons e pirulitos. Músicas são cantadas em homenagem aos santos gêmeos, enquanto os sete meninos escolhidos aguardam ansiosos pela permissão para começar a comer – tradicionalmente comem de mão. Podemos ter a leitura da valorização da criança nessa festa, pois tudo é preparado pensando-se nelas.
Para muitos baianos, as homenagens a homenagem a Cosme e Damião não são opcionais, já se tornaram uma obrigação. “Todo ano tem que fazer, é uma tradição que já vem da minha avó”, dizem muitos, como Solange Maria Conceição, 50 anos, que já faz o caruru para os santos há 30 anos.
No Ofício das Leituras, na Liturgia das Horas, na tradição católica, sobre esses santos se diz: “De antiqüíssimos documentos consta que seu sepulcro se encontra em Cirro, na Síria, onde foi construída uma basílica em sua honra. Seu culto chegou a Roma e se espalhou por toda a Igreja”.
Também nesse dia lê-se um trecho de um dos Sermões de St° Agostinho, sob o título: A preciosa morte dos mártires comprada a preço da morte de Cristo.
Diz o texto:”Pelos feitos gloriosos dos mártires, com que por toda parte se ilustra a Igreja, provamos com nossos próprios olhos que verdadeiro é o que cantamos: Preciosa é aos olhos do Senhor, a morte de seus santos; preciosa não só a nossos olhos, mas aos olhos daquele por cujo nome se sofreu. Contudo, o preço dessas mortes é a morte de um só. Quantas mortes comprou um só ao morrer? Se não morresse, o grão de trigo não se multiplicaria. (...) Como venceriam os mártires, se neles não vencesse aquele que disse:’Alegrai-vos porque eu venci o mundo’. Ó ditosos os que assim beberam desse cálice: terminaram as dores, receberam as honras”.

A Bíblia nossa de cada dia

Setembro é o mês consagrado à Bíblia pela Igreja Católica – para muitos grupos evangélicos é em dezembro. Mas não importa a data, o importante é que a Palavra de Deus seja celebrada. Claro, que todo dia é dia da Bíblia para os que crêem, pois esses sabem que é lá que encontram o alimento espiritual. O mistério da Bíblia é que ela fala da trama humana – por isso há passagens tão obscuras, mesmo no Novo Testamento – mas é lá que a presença divina aparece, parece até que Ele quer fazer desse caminho o seu caminho.
Mas o que é a Bíblia? Basta um simples olhar lançado sobre esse livro para ver que ele é uma coleção de livros, é uma “biblioteca”.Quando as introduções desses livros são consultadas, a primeira impressão se confirma: distribuindo-se por mais de dez séculos: os livros provêm de dezenas de autores diferentes. Uns estão escritos em hebraico (com algumas passagens em aramaico), outros em grego; apresentam gêneros literários tão diversos quanto a narrativa histórica.
Todos esses livros provêm de homens e mulheres com uma convicção comum: Deus os destinou a formar um povo que toma lugar na história, com legislação própria e normas de vida pessoal e coletiva. Foram todos eles testemunhas daquilo que Deus fez por eles. Relatam os apelos de Deus e as reações dos homens: indagações,queixas, louvor,ações de graças.
Este povo posto a caminho por Deus foi, primeiramente, Israel, envolvido nos movimentos que agitaram o Oriente Próximo até os inícios da nossa era. No entanto, sua religião os tornava um povo à parte. Israel conhecia um único Deus, invisível e transcendente: o Senhor Javé. Exprimia a relação que o unia ao seu Deus com um termo jurídico: Aliança.
O antigo povo judaico, cuja dispersão se acelerou com a destruição de seu centro religioso, Jerusalém, em 70 d.C., prolonga-se na comunidade judaica, cuja história movimentada e freqüentemente trágica, se desenvolve na maior parte do tempo em terra de exílio. Independente das múltiplas tendências do povo judaico, todas têm por fundamento a Escritura e notadamente a Lei, venerada como a própria Palavra de Senhor..
O século I da era cristão, ao mesmo tempo que vê o desaparecimento da nação judaica, assiste ao nascimento da comunidade cristã, que se afastou progressivamente do judaísmo, apesar dos seus teólogos terem afirmado que a “Igreja é filha da Sinagoga”. Para os cristãos, a história do Povo de Deus, tinha encontrado cumprimento em Jesus de Nazaré; foi por Ele que Deus reuniu as pessoas de todas as origens para formar um povo regido por Nova Aliança, um Novo Testamento.
Os discípulos de Jesus e seus sucessores imediatos que redigiram o Novo Testamento viam Nele como aquele que concretizaria a esperança de Israel e responderia à expectativa universal tal qual expressa no seio desse próprio povo. Com toda naturalidade, utilizaram a linguagem dos livros santos de Israel com toda a sua densidade histórica e experiência religiosa acumulada no decorrer dos séculos. Conseqüentemente, a comunidade cristã reconheceu no Antigo testamento a Palavra de Deus. As Escrituras judaicas vieram a ser, então, a primeira Bíblia dos cristãos. Mas iluminado pela fé em Jesus Cristo, o Antigo Testamento tomou um sentido novo para eles, tornou-se como que um novo livro. São Jerônimo, no século V dizia que a chave de leitura do AT é Jesus Cristo, pois ela não fala de outra coisa a não ser profetizar Aquele que viria como Messias prometido. Assim, judeus e cristão se vinculam à Bíblia, mas não a lêem com os mesmos olhos.
O leitor constata que a Bíblia não constitui simplesmente um antigo tesouro literário ou uma mina de documentação sobre a história das idéias morais e religiosas de um povo. A Bíblia não é somente um livro no qual se fala de Deus; ela se apresenta como um livro no qual Deus fala ao homem, como atestam os autores bíblicos.
“Não se trata de uma palavra sem importância para vós, é vossa vida”, diz o livro do Deuteronômio 32,47. Também diz o evangelho de João 20,30-31 :”Estes sinais foram escritos neste livro para que creiais que Jesus é o filho de Deus, e para que crendo, tenhais a vida em seu nome”.
Nenhum livro poderá desconhecer essa função do texto bíblico, essa interpretação constante, essa vontade de transmitir uma mensagem vital e de atrair a adesão do leitor. O leitor é livre para resistir e pode apreciar a Bíblia apenas como um literato ou apreciador da história antiga. Mas se lê aceitar entrar em diálogo com os autores que dão testemunho da própria fé e suscitam a necessidade de uma decisão, a questão fundamental,o sentido da vida, não deixará de ser enfrentada por ele. Mas a Bíblia e a fé,embora estejam profundamente enraizadas numa história particular e bastante longa, ultrapassam a História. Os autores bíblicos querem ser os porta-vozes de uma Palavra que se dirige a toda pessoa, em todo tempo e lugar. Através dos séculos, as comunidades cristãs de todas as línguas e de todas as culturas encontraram e encontram alimento neste livro, cuja mensagem meditam e atualizam.

A longevidade do povo do Recôncavo

Chama a atenção dos visitantes e dos que são de fora da Bahia, a longevidade, com energia, dos baianos, sobretudo, daqueles que estão nessa região privilegiada do Recôncavo. Encontram-se com facilidade senhoras que atuam na Paróquia da Vitória, que estão entre os 80 e 90 anos, que assumem funções, como Dona Genoveva, que do alto dos seus 93 anos é uma atuante ministra da Eucaristia, levando a comunhão, diariamente , para quatro ou cinco doentes, e os anima com sua palavra amiga.
Nesses dias, na próxima 3ª feira, a matriarca Dona Canô Veloso estará completando seus 101 anos, bem vividos, bem cantados e decantados. Ela se tornou um símbolo da cidade e do Recôncavo, com sua simplicidade forte, sua devoção à Mãe da Purificação, com seu espírito agregador. Ela congrega a família, filhos, netos e bisnetos, mas reúne a todos em torno de Santo Amaro. Aquela cidade de antigamente, que já não mais existe, continua a existir nela e através dela que revive e reatualiza a velha Santo Amaro. Recentemente, a imprensa consagrou-lhe mais um artigo-documentário onde a descreve como dona-de-casa, especialista nos bons pratos e detentora de segredos culinários que só ela sabe, apesar de ter as mesmas secretárias na cozinha há quase 50 anos. É ela quem continua dando o cardápio diário, quem escolhe o peixe e o camarão oferecido à porta de sua casa. Tudo isso está condensado num livro intitulado “O sal é um dom”, escrito por sua filha poetisa Mabel Veloso. E o título veio de uma resposta despretensiosa que ela dá ao ser consultada sobre a quantidade de sal na comida :”Meu filho, o sal é um dom”.
Naturalmente, que ela é muito bem cuidada por todos que a cercam, e bem merecido. Ela vive plenamente a vida, conectada com tudo que se passa ao seu redor. Ela administra a sua casa, acompanha a vida dos filhos e netos, sabe do percurso de cada um, tem seus programas de televisão favoritos, e, sobretudo, não abre mão de suas devoções religiosas. A Igreja da Purificação é um ponto de referência na sua vida – nada ela faz sem consultar a grande Mãe Maria. Que seu jeito de viver seja uma lição a todos que a cercam e admiram. Que seja sempre feliz e parabéns.
Outra figura de relevo, integrante da Paróquia da Vitória, foi Dona Stela Ataíde Vasconcelos. No dia 03/09 houve uma Missa de Ação de Graças na Vitória, organizada por sua filha mais velha, Professora Mazinete Lemos, celebrada pelo Pe. Sadoc, do qual era muito amiga, pois, se estivesse viva, faria 100 anos. Morreu aos 96 anos, mas em plena atividade. Ela era, e sua memória continua sendo, o centro da família – foi a grande conselheira dos filhos e amigos. Na homilia da Missa, Pe. Sadoc comparou-a a uma estrela e fez um trocadilho com seu nome latino :Stela e Estrela –“Ela continua a brilhar nos corações dos filhos e amigos”. Até poucos dias antes do falecimento, colaborava na Missa indo recolher as ofertas, passando de banco em banco para fazer a coleta.
No final da Missa, sua filha Marigny Vasconcelos Barros, leu uma mensagem que reflete a saudade da família mas, sobretudo a fé que preside a momentos como esse, pois a vida dela foi um irradiação da fé que ela sempre teve.
Diz a oração:
“Senhor Jesus Cristo, Tu és nossa esperança agora e na hora de nossa morte. Contagiados pelas Tuas promessas , aguardamos a Vida Nova que vai brotar de nossas cinzas. Pois, firmemente acreditamos que a morte é “passagem” de nosso ser, de um corpo perecível para um corpo marcado com o selo da imortalidade. Bem sabemos que nosso corpo não pode ir muito longe, já que é produto daqui da terra. Aguardamos outro que jamais perecerá, uma vez que é produto do céu, à semelhança do corpo que Tu mesmo recebestes ao ressuscitar, primícia de uma nova humanidade, que por Ti vive e em Ti espera.
Essa passagem pode ser mistério incompreensível para nós. Mas é mistério de esperança, não de tristeza. Mistério de vida, não de morte. Mistério que dá sentido à nossa existência humana e ao nosso peregrinar por este mundo. É como Tu mesmo disseste Senhor:”Toda semente jogada no chão acaba por apodrecer”. Depois ela volta á luz do sol de roupagem nova e esplendorosa.
Mas se a erva do campo e as flores do jardim morrem e depois renascem, por que o ser humano, uma vez golpeado pela morte, não poderia se levantar de novo?
Obrigado Senhor, por essa esperança, primeira flor de Tua Ressurreição. Pois se, com efeito, sem ela seria terrível enfrentar a vida, mais terrível seria enfrentar a morte”.

UM ATO CONTRA A VIOLÊNCIA

Na 6ª f.,dia 31 de agosto, em S. Sebastião do Passé, houve uma grande ATO a FAVOR da PAZ e CONTRA A VIOLÊNCIA que tem atingido aquele município. Foi no Bairro Quarta Etapa. A iniciativa foi do grupo que está em torno do Presidente da Câmara de Vereadores, que é candidato a prefeito, Janser Mesquita e que tem na chapa o Pe. Mateus Lima como vice. Na semana anterior,o grupo estava em visita a um bairro popular na periferia da cidade fazendo a visita normal nessa fase política, acompanhado de correligionários e com significativa parcela da população. De repente, um carro dirigido por um candidato a vereador de partido contrário, que estava tendo um comício perto daquela área, começa a circular em torno do grupo. Num dado momento ele projeta o automóvel dentro da multidão, exatamente onde estava o presidente da Câmara. Este foi atingido na perna e projetado na calçada. Bate com a cabeça no meio fio e tem traumatismo craniano. Logo é socorrido pelo irmão médico que estava presente, e vem todo o ritual que acontece nesses momentos: ambulância,outras pessoas que passam mal( inclusive a mãe do candidato que estava presente) dirigir-se para o Aliança,etc. Na verdade, se o socorro não tivesse ido imediato, ele teria morrido, pois houve necessidade de oxigênio durante a viagem e outras medidas.
Pode-se imaginar o desconforto público que esse ato provocou na multidão naquele momento. O agressor se evade rapidamente, seguido da multidão que queria linchá-lo, mas deixa o carro numa rua sem saída e foge. As providências no campo jurídico estão sendo tomadas, pelos trâmites legais. Mas fica uma pergunta: qual o interesse em alijar esse candidato do processo democrático de disputa a um cargo público, ele que já é um homem público ( já está no quarto mandato como vereador), é filho do ex-prefeito, já falecido, Jacildo Mesquita, tem um trabalho reconhecido pelo povo e conta com grande aprovação do seu eleitorado?
Nesse ATO pela PAZ, houve uma presença significativa que foi o comunicador Varela, amigo do grupo. Pode-se imaginar o delírio do público ao vê-lo pessoalmente. Várias pessoas cercaram-no para pedir autógrafos. E ele começou sua fala dando um grande cartão vermelho àquele gesto de violência, de desrespeito à pessoa, àquela agressão. Apontando para Janser, presidente da Câmara, na sua primeira aparição pública depois do atentado que sofreu, com a perna engessada e com um colete de apoio no pescoço, falou de sua saúde , dos transplantes a que foi submetido e como nunca perdeu a fé em Deus:”Fui desenganado pelos médicos, mas nunca fui desenganado por Deus”. Com relação à violência, lembrou que violência gera violência e que o povo saberá responder àquele gesto na paz e no espírito democrático:”Se o cão morder a sua perna, não morda a perna do cão”. E ao mesmo tempo exaltou as virtudes do candidato, que é considerado por todos um homem de paz: “Só se atira pedra nas árvores que dão fruto”.
Na verdade, vivemos nesses dias, tempos onde o medo se espalha rapidamente. A nossa sociedade brinca com a vida e com morte – há uma brutalidade que nos choca. A última Campanha da Fraternidade lançou aquele apelo tão forte a favor da vida e contra todas as formas de violência e de desrespeito à pessoa. Mas há um instinto à vida, lá no íntimo todos querem combater a violência, que é diferente do instinto do mal que sempre prevaleceu na história da humanidade – hoje há requintes ideológicos que permeiam essa violência. Ser contar a violência é um desejo “natural”. E isso tem um porquê. É que a violência contradiz a lei básica de Deus que quer que “todos tenham vida e vida em abundância”. Toda vida vem dEle, é uma emanação da vida que é Ele próprio. E outro aspecto desse “instinto” contra tudo que cheira a violência, é porque ela contradiz a dignidade humana. Cada pessoa é única, é sagrada, é sempre “imagem e semelhança” do Criador.
E, sobretudo, na razão da violência que houve em S. Sebastião do Passé, no âmbito político, idéias se combatem com idéias e não com agressão física, pois do contrário, estaríamos voltando para aquela prática política retrógrada e primitiva do tentar calar a boca do adversário a qualquer preço, sobretudo, usando o apelo da força.
Conhecemos o pensamento proverbial dos romanos :”Se queres a paz, prepara a guerra”. E conhecemos as conseqüências desse axioma. Hoje temos que dizer o contrário:”Se queres a paz, prepara a paz”. Os grandes líderes da humanidade, seguindo as pegadas de Cristo, deram a vida lutando pela paz. Cito dois que são emblemáticos: o Pastor Luther King, que continua o seu sonho no sonho dos que plantam a paz e Gandhi, que pacificamente e na sua morte, deu a libertação a seu povo.
Hoje há uma violência que tem caráter filosófico e tem origem na banalização da vida – tudo é descartável. Isso é fruto do materialismo e consumismo no qual estamos imersos. Num outro aspecto, ela vem como conseqüência do problema social em que estamos imersos: a exclusão social, o desemprego , que faz dos jovens presas fáceis .
Mas a violência que houve em S. Sebastião do Passé foge a esses parâmetros, ela é ideológica, covarde, quer ser a lei do mais forte. Na verdade, a violência é a força dos fracos.