segunda-feira, 2 de junho de 2008

Santo Antõnio, de Lisboa e de Pádua

Sebastião Heber

Não é questão de dupla nacionalidade, mas a verdade é que ele nasceu em Lisboa e se tornou conhecido em Pádua. E por isso mesmo é que os portugueses celebram sua memória de forma entusiástica, decorando com bandeirinhas e cravos as janelas das casas dos moradores das ruas que estão em torno do Castelo S. Jorge, nas proximidades da casa em que ele nasceu.
O mês de junho está aí e com ele começam os belos festejos juninos que relembram a nossa infância, sobretudo para aqueles que a viveram no interior. As festas populares e folclóricas incorrem sempre no perigo de serem “seqüestradas” pelo consumo desenfreado, tirando delas a poesia e, sobretudo, sua mística. É importante preservá-las para que a nossa identidade não se perca e os valores culturais permeiem as programações turísticas.
Antônio, além de ser eminentemente popular, casamenteiro, ligado ao nosso folclore – diz-se, com propriedade, que após S. Francisco, ele é o mais importante dentre os discípulos do pobre de Assis - , ele é também um dos poucos que têm o título de Doutor da Igreja.
Nasceu em Lisboa em 1195, e foi , primeiramente, cônego regular de em Coimbra, mas Fernando muda de nome, tornando-se franciscano, onde ele responde à sua vocação missionária. Após um período em Marrocos, onde sua saúde não permite que ele lá permaneça, ele vai para Assis, considerado o foco da vida franciscana. Sua fama de bom pregador e de controversista,sua cultura teológica,o ardor de sua fé, tudo o leva a uma intensa vida pastoral, marcada pela pregação, onde ele, primeiramente combate os cátaros ou albigenses, e depois , entre 1225 e 1227, na região do Midi da França (Toulouse, Limoges, Montpellier, regiões atingidas pelos albigenses). O pensamento dessa doutrina foi considerado herético pois professa um dualismo entre o bem e o mal. A matéria, e, portanto o corpo, é um mal, e isso chegou até à recusa da Encarnação de Jesus Cristo – o Filho de Deus não poderia ter assumido um corpo humano pois esse é sede do mal. Desse modo, no seu purismo ( cátaro significa “puro”), eles chegaram a condenar até o casamento. Em face do relachamento dos cristãos e, sobretudo do clero, essa concepção se espalhou entre os fiéis resultando numa luta da hierarquia da Igreja contra essa concepção, sobretudo pela pregação.
Após essa fase, ele se retira à Itália do Norte, em Pádua onde morre aos 36 anos, em 1231 , tendo adquirido uma grande fama popular de santidade, que o fez ser canonizado apenas um ano após sua morte, pelo Papa Gregório IX. Seu túmulo logo se torna um lugar de peregrinação intensamente freqüentado. Em 1946 o Papa Pio XII declara-o como Doutor da Igreja.
Logo ele entra no imaginário popular, tornando-o muito venerado na sua terra natal. É de lá que chega até nós toda uma devoção popular que o faz ser o protetor dos objetos perdidos. A origem desse crença vem do fato de um noviço ter deixado o convento levando (roubando) o seu breviário ( livro de orações com os salmos). O santo fica preocupado, pois lá tinha anotações preciosas – e, de fato , o noviço retorna para devolver o livro ao santo.
Santo Antônio é, muitas vezes, representado com um lírio ou um livro, símbolo do seu conhecimento e do seu amor pela Sagrada Escritura . Outras vezes, tem ao seu lado, um asno, pois, de acordo com a sagrada lenda, o animal se ajoelhou diante do Santíssimo Sacramento levado pelo Santo, quando a presença real de Cristo na Hóstia havia sido contestada por um interlocutor, que passou a crer naquele mistério cristão.
Passo a citar um trecho de um sermão do santo, intitulado “É viva a palavra quando são as obras que falam” :
“Quem está cheio do Espírito santo fala várias línguas. Elas são os vários testemunhos sobre Cristo, a saber, a humildade, a pobreza, a obediência; falamos essas línguas quando os outros as vêem em nós mesmos. É viva a palavra quando são as obras que falam, Cessem, peço, os discursos, falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras e por isso, amaldiçoados pelo Senhor, porque Ele amaldiçoa a figueira em que não encontrara frutos, apenas folhas. Que faça o que prega, diz Gregório. Em vão expõe o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras. Falemos, portanto, em conformidade com o que o espírito Santo nos conceder falar”.

Sebastião Heber.Prof. de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris, da Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio. Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro.

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