sexta-feira, 18 de julho de 2008

A INICIAÇÃO E A BUSCA DE NOVOS VALORES

A INICIAÇÃO E A BUSCA DE NOVOS VALORES



A iniciação está presente em todo tipo de sociedade, e abrange vários níveis da vida humana, muitas vezes sendo difícil até distinguir onde termina um elemento e começa outro. Desse modo, o social, o religioso, o econômico e outros aspectos pertinentes se interligam e dependem mutuamente. Nesse sentido, as instituições básicas e clássicas da sociedade, não apenas ocidental, isto é, a família, a religião e a escola (academia), são os canais naturais de transmissão de valores para as novas gerações.
Mas o fato, facilmente constatável da necessidade de iniciação nas diversas sociedades humanas está hoje ameaçado, sofre um processo de crise, de ruptura, e ameaça a transmissão de valores para as gerações mais jovens, que, por isso mesmo, se sentem sem rumo, em busca de novos valores em que se apóiem.
Evidentemente que há várias razões para isso. Em contraste com a sociedade antiga que baseava a transmissão dos seus valores a partir da necessidade de uma iniciação, na sociedade moderna, o que predomina é a auto-iniciação, é o aprendizado imediato das coisas. Aprende-se algo para fazer alguma coisa com aquilo que se aprendeu. É a sociedade pragmática, utilitária, que leva as pessoas a uma mentalidade descartável da vida: tudo é ou não utilizável, até as pessoas. Nas sociedades de pequena escala ainda subsistem as iniciações, apesar da presença do homem branco, nessas sociedades, constituir-se sempre uma ameaça.
O que mais caracteriza a nossa sociedade, no sentido de trazer inquietações, é que ela não vê com clareza o que quer transmitir. Aí está a raiz da crise da iniciação no nosso tempo. Na verdade, a iniciação é portadora de elementos que constituem as diversas sociedades, pois sem transmissão de valores não há continuidade.
O próprio fato da crise de iniciação na nossa sociedade gera, em contrapartida, a necessidade de novas iniciações e de novos ritos de passagem, pois persiste sempre a necessidade de ritos iniciáticos, que subsistem sob formas não institucionalizadas, informais.
As sociedades humanas são marcadas pela institucionalização da cultura. Isso porque ela é o instrumento de transmissão dos meios de sobrevivência, seja dos indivíduos, seja da sociedade. Como o homem, ao nascer, é dependente de tudo, tem necessidade de ser educado, de receber um patrimônio construído pelos outros, para que possa se inserir no seu contexto. Como hoje há um certo deslocamento de tarefas, com relação à missão dos tradicionais agentes formadores, a formação tem passado para outras instâncias que escapam ao controle das camadas dominantes. Isso gera, naturalmente, uma tensão entre a educação formal e a informal. Nem sempre os estudiosos do assunto vêem essa tensão como algo negativo, mas consideram que ela pode ser sinal de uma busca e, sobretudo, de recomposição de novos valores.

A própria crise da iniciação leva a pessoa e a sociedade quase a “fabricarem” novos ritos de iniciação. É como se o grupo quisesse reforçar a coesão, as normas, interiorizar suas regras pelos novos que vão chegando e permitir, de alguma forma, que aquele que aceita a regra do jogo (daquele grupo ou sociedade) aceite se religar a uma história contínua e ser depositário de uma memória da qual será transmissor.
Essas dificuldades atingem as pessoas individualmente e como grupo social; atingem a religião como um todo, o cristianismo, o catolicismo e outras expressões religiosas; as famílias religiosas não sabem como iniciar as novas gerações nos seus valores básicos, nos valores recebidos e vividos numa sociedade em mutação.
Persiste uma rejeição quase instintiva de tudo que é religioso ou que fale de Deus, sobretudo nas relações dos jovens com a fé cristã. É inegável o esforço de muitos líderes religiosos, através de manifestações oficiais e de documentos emitidos para um diálogo mais próximo.
Nesse contexto, é apresentado o problema da ruptura com as tradições que traz como conseqüência uma perda de valores da memória coletiva. Nesse sentido, o trabalho é um interrogar aos cristãos, às pessoas de fé, sobre a sua missão: que tarefas têm os que crêem, quando eles próprios são confrontados com uma interrupção do fio da tradição cristã?

Nenhum comentário: