quarta-feira, 2 de julho de 2008

São Paulo e São Pedro - colunas do cristianismo

No rico ciclo junino, que termina com a festa de S. Pedro, figura central na expansão do cristianismo nascente, a pessoa de S. Paulo, que na Liturgia é celebrado juntamente com o Chaveiro dos Céus, no dia 29 de junho, não entrou no ciclo das devoções populares de junho.
Pedro é o discípulo-apóstolo tão ardoroso quanto fraco. Todos nos lembramos do que Cristo lhe disse :”Pedro, antes que o galo cante, tu me negarás”. E de fato, isso aconteceu. Mas nem por isso ele deixou de ser o depositário da confiança do Senhor para ser o Pedro-pedra, sobre a qual ( pedra) Ele edificou a sua Igreja. Por sua fé e humildade será chamado a confirmar a fé dos seus irmãos.
S. Pedro, que conforme a tradição dos Evangelhos, foi o apóstolo escolhido para ser o irmão-pastor da comunidade, e numa linguagem posterior, é chamado de o 1º Papa, é festejado com outro apóstolo que tem importância capital para a expansão do cristianismo. Os dois são considerados como as colunas mestras nessa nova arquitetura de Deus que é a Igreja/Templo vivo que Cristo quis edificar.
De acordo com a história da Liturgia, essa festa dos dois apóstolos, foi incluída no Santoral Romano já antes da festa do Natal. No século IV já eram celebradas três missas em homenagem a esses santos: uma em S. Pedro no Vaticano, outra em S.Paulo Fora dos Muros (onde estão as relíquias desse santo) e outra na Catacumba de S. Sebastião. Diz a tradição que na época das perseguições aos cristãos prolongadas até o início do IV século,as relíquias desses dois apóstolos ficaram escondidas naquela catacumba, até que viesse a era constantiniana.
Mas Paulo tem o destaque de ser o cabeça-pensante, aquele que elaborou, por primeiro, o corpo doutrinal do pensamento do cristianismo. Ele é, por excelência, o missionário impetuoso, que rompe as fronteiras do judaísmo e proclama a Boa Nova a todos os povos. Ele é o apóstolo que melhor aprofunda aquilo que a teologia chama de o “mistério “ de Cristo.
O pensamento de Paulo está conservado nas suas epístolas, que constituem aquilo que se chama de “o corpo Paulino”. Suas treze epístolas, designadas pelos destinatários ou comunidades a que ele se dirigia, são classificadas não pela ordem cronológica, mas pelo comprimento decrescente. Entre as epístolas, há aquelas ditas do cativeiro (Filipenses,Colossenses e Filemon), sem precisar qual foi o cativeiro, pois ele esteve preso por diversas vezes. Há também as epístolas pastorais – de Timóteo e Tito – que são assim chamadas por serem instruções aos pastores das jovens igrejas.
É conhecido o lugar do pensamento de Paulo na elaboração do pensamento cristão. E sua pessoa se encontra simbolizando o encontro de três culturas – a judaica, a romana e a cristã – que marcarão a difusão do cristianismo.
Ele nasceu na Ásia Menor, entre 5 e 15 da era cristã de uma família zelosa, e ele próprio, como fariseu, recebeu uma sólida formação em Jerusalém, falava grego, e através de sua família, beneficiou-se do título de Cidadão Romano. Convencionou-se celebrar o bimilenário de nascimento de Paulo de 2008 a 2009. Ele não conheceu Cristo pessoalmente. Em Jerusalém fez parte do grupo dos judeus dos mais hostis aos cristãos e os perseguiu sem descanso, com convicção de estar prestando um grande bem à Lei antiga – ele assistiu e aprovou o martírio de Estevão, considerado o primeiro mártir da era cristã. Mas é exatamente em Damasco, onde estava à cata de cristãos para prendê-los, que ele, pelo ano 38, é jogado por terra por uma força invencível que lhe diz :”Saulo, Saulo, por que me persegues ?”. Dessa forma, ele recebeu uma revelação que o tornou um dos mais ardentes discípulos de Cristo .
Toda a teologia de Paulo decorre do caminho percorrido em Damasco. “Quem és tu Senhor?”. E Cristo lhe responde :”Eu sou Jesus a quem tu persegues”. Sobre esse caminho ele identifica Jesus como o Filho de Deus, como o Messias prometido. Ele compreende que a Lei o havia tornado cego para entender a verdadeira vontade de Deus. E essa visão vai ser transportada para a sua teologia : identificar os cristãos, os irmãos, com Cristo.
Hostilizado de um lado pelos judeus e do outro lado pelos cristãos de origem judaica, ele foi conduzido àqueles que estavam mais longe do cristianismo, aos pagãos que os judeus chamavam de os gentios – por isso, ele é chamado de “O Apóstolo dos Gentios”.
Independente de sua obra teológica, o balanço da sua ação missionária é considerável. Ele multiplicou e consolidou as Igrejas da Ásia Menor (Galácia, Éfeso) e contribuiu fazendo com que o cristianismo penetrasse no Ocidente, alem de evangelizar as grandes cidades da Grécia, como Filipos, Tessalônica, Colossos. Mas sofreu hostilidade em Atenas e também em Roma. Ele morreu em Roma entre 67 e 68, provavelmente, pouco após Pedro. Eles são venerados em conjunto e foram considerados como “as colunas centrais da Igreja” já pelo Papa S. Clemente, em 95.
O cristianismo, sob as suas diversas formas históricas , necessita sempre retomar a mensagem e atuação desses dois Apóstolos, voltar à primeira pregação, pois ela é modelar para renovar a visão e a busca do sagrado nos nossos dias.

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