segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A 4ª Conferência Jaime Wright Na Faculdade 2 de Julho

A Faculdade 2 de Julho, já octogenária, realizou a sua 4ª Conferência Jaime Wright, homenageando os promotores da Paz e dos Direitos Humanos. O Reverendo Wright notabilizou-se no Nordeste e Sul do país como co-promotor do grupo Clamor, na intransigente luta pela defesa dos Direitos Humanos, no auge da ditadura militar e como expoente do Projeto Brasil Nunca Mais, ao lado do Cardeal D. Evaristo Arns, que foi Arcebispo de São Paulo, e que carinhosamente chamava o Pastor de “meu bispo auxiliar”, é o que informa o folder da Conferência. A CESE, Coordenadoria Ecumênica de Serviço, teve na equipe de fundação o mesmo Pastor.
A Fundação 2 de Julho, que engloba o Colégio e a Faculdade, é norteada por princípios ecumênicos e tem como parâmetro uma linha libertária, a preocupação com a justiça, a plena cidadania e o bem comum. Ela se deixa orientar pelo interesse em registrar para as gerações futuras exemplos de vidas dedicadas à construção da paz e da conquista plena dos direitos humanos. Nessa perspectiva, o Conselho de Curadores, acolhendo essa proposta da Faculdade 2 de Julho, resolveu instituir o Prêmio Jaime Wright de Promotores da Paz e Direitos Humanos, a ser conferido a pessoas e instituições de destaque no cenário nacional, na defesa dos Direitos Humanos e na promoção da cultura.
Este ano os premiados foram: Prêmio Personalidade: a advogada Joênia Wapichana recebeu a homenagem pela sua atuação na causa indígena e pela notoriedade internacional em defesa da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Prêmio Institucional: André Feitosa Alcântara representou o Centro de Direitos Humanos de Sapopemba Pablo González Olalla (SP), Homenagem Especial: foi para Diva Santana (Grupo Tortura Nunca Mais), de Salvador, pela trajetória de vida e envolvimento na Campanha Memória e Verdade, que trata da anistia, processos de reparação e luta contra a impunidade dos torturadores durante o regime militar.
A Conferência se realizou de 22 a 24 de outubro e teve uma vasta programação. A abertura foi realizada com a presença de Frederico Fernandes, Superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos, e de Maria Luiza Marcílio, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP. Os dias seguintes foram enriquecidos com a presença de Paulo Carbonari, Conselheiro do Movimento Nacional de Direitos Humanos e professor de filosofia no Instituto Berthier em Passo Fundo / RS, com o tema “A evolução do Conceito de Direitos Humanos”. A Conferência também contou com a presença de Antonio Carlos Fester, da Comissão Justiça e Paz /SP e de Sérgi Rovira, da Fundacion Cultura de Paz, Espanha, sob o tema “Direitos humanos no Brasil: dilemas e perspectivas”.
Houve um grande enriquecimento com as Mesas Temáticas que trouxeram abordagens de interesse e de atualidade para os estudantes. Os temas foram: Desigualdade Social, Orientação e Discriminação Sexual, Diálogo Interreligioso, Legalidade e Legitimidade, Direito à Informação, Direitos Econômicos, Responsabilidade com a Comunidade, A Evolução dos Direitos da Mulher, Direito ao Trabalho decente, Diversidade Cultural, Acesso aos Serviços Públicos, Meio ambiente, direito à Moradia.
Na Mesa Diálogo Interreligioso, que foi mediada por mim, houve a presença do Pai Pequeno Eldon Tata Kamunguengue, do Terreiro S. Roque no Cabula, que é um Terreiro da linha Angola. Ele apresentou os grandes aspectos que caracterizam os Terreiros dessa tradição, com seus Inquices ( Orixás). E destacou o Mito da Criação que coloca no centro a figura da mulher. Por isso em cada Terreiro dessa linha há uma espirradeira, mas as mulheres são proibidas de tocar nessa planta pois ela é abortiva. E isso é uma proibição do próprio Zambi. Explicou também que o Terreiro está localizado no Bairro do Beiru; esse foi o nome de um escravo ( Beiru ou Quibeiru ) que aqui chegou através do Rio de Janeiro , comprado pelo senhor Hélio Silva Garcia, e que criou um dos primeiros Quilombos da região.
O representante evangélico foi o Pastor Djalma Torres, que é Pós-Graduado em História e Cultura Afro-Descendente, é Presidente do Cepesc, Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão e da Fraternidade de Igrejas Evangélicas do Brasil. Na sua fala destacou que há uma onda fundamentalista no Catolicismo e no Protestantismo, com acentuados recuos no diálogo ecumênico. Também frisou que os grandes teólogos cristãos estão fora das igrejas oficiais. Lembrou Hans Kung com seu livro “Ser cristão”, onde diz que não haverá paz no mundo enquanto não houver paz nas religiões. Também lembrou, a propósito da explosão das Igrejas Neo-Pentecostais, que “a Igreja não é um negócio, algo para se ganhar dinheiro, mas sim um espaço de apoio humano-espiritual e de paz”. Outro aspecto importante lembrado pelo Pastor foi de um erro que acompanha tanto o Catolicismo como o Protestantismo: quando se fala em Teologia, ambos os grupos só pensam no Cristianismo – mas há outras Teologias, como a das Religiões Afras. Ressaltou a importância das religiões não-cristãs no mundo. “Um dos pressupostos do cristianismo”, disse ele, “ é que representa a única religião verdadeira. E onde ficam os valores religiosos da China e da Índia, com suas religiões milenares, onde o cristianismo representa apenas uma parcela ínfima da população?”.
Essa Mesa temática teve uma participação numerosa de estudantes a ponto do horário ser esgotado.
De parabéns a Faculdade 2 de Julho por proporcionar para a comunidade acadêmica mais um evento que dá à Academia a categoria de “Universitas”.

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