segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A chance de nascer no dia de S. Francisco.Nos 122 anos do Dr. Ernesto Simões Filho


O fundador do jornal A Tarde nasceu em Cachoeira, no dia 4 de outubro de 1886 . Nascer em Cachoeira já é um privilégio pois ela é uma cidade representativa no Recôncavo Baiano. Lá surgiram os primeiros engenhos, portanto, a presença dos escravizados se fez marcante não apenas de forma numérica mas, sobretudo, na qualidade. Quem se interessa em estudar as religiões de matriz afra tem,inevitavelmente, que passar por lá para “beber” na fonte”. Nessa cidade há resquícios dos candomblés mais antigos, certamente proto- candomblés. Pois bem, ao lado dessa moldura que Cachoeira representa, um dos bahianos , dos mais ilustres, enriquece essa cidade tendo lá nascido.
E como se isso não bastasse, ele nasce no dia de S. Francisco de Assis, dos santos da Igreja Católica, um dos mais estimados.
A memória de Dr. Simões Filho, foi renovada numa Missa celebrada no Campo Santo, a pedido de sua família. Lá estavam presentes sua filha,D. Regina Simões de Mello Leitão, Dr. Renato Bocaiúva, diversos outros membros da família, integrantes da diretoria do Jornal, como Dr. Edivaldo Boaventura, jornalista. Florisvaldo Mattos, amigos da família, como o governador Roberto Santos.
Na Missa foi lembrada a importância de S. Francisco, um santo universal, que reintegrou o Cristianismo católico com suas origens, perdido em disputas temporais, especialmente nos séculos XII e XIII. Dessa forma, o cristianismo volta ao seu momento primeiro, aquele que o Gênesis descreve no momento da narrativa da Criação, em forma de parábola :” E Deus viu que tudo era bom”- para cada obra que Deus criara, volta esse refrão, mostrando a origem do criado, que é o próprio coração de Javé.
Francisco reintegrou o que parecia irreconciliável : criatura e Criador - para ele tudo é “irmão” : o sol, a lua, a água, o lobo, até a morte ... temida por crentes e descrentes.
Temos muito a aprender com S. Francisco. – ele é sempre atual.Numa de suas cartas escrita a todos os fiéis, que tem como título :”Temos de ser simples, humildes e puros”, ele diz:
“Sendo Cristo, incomensuravelmente rico, quis Ele, no entanto,junto com sua santíssima Mãe, escolher a pobreza (...) Ó como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho:’Amarás o Senhor teu Deus e ao próximo como a ti mesmo’(...) Tenhamos caridade e façamos esmolas, já que essas lavam as almas da nódoa do pecado. Os homens perdem tudo que deixam neste mundo;consigo somente levam a paga da caridade e as esmolas que fizeram; destas receberão do Senhor o prêmio e justa recompensa”.
Mas temos também muito a aprender com Dr. Ernesto Simões. Filho. Sua vida continua nas obras que realizou.
Ele teve uma carreira brilhante : visualizou a Bahia numa perspectiva utópica . E aqui utopia não tem o significado do senso comum, isto é, de visionário, irrealista, mas é no genuíno sentido grego, que significa alguém que viu para além do seu tempo. E foi, de fato, isso o que aconteceu com ele. O jornal foi criado em 15/10/1912. Já de início, o jornal trouxe conceitos de renovação, anúncios classificatórios, campanhas editoriais. Em 1913 trouxe um anúncio com uma ilustração fotográfica sobre um filme intitulado “Um salto para a morte”. No aspecto tecnológico em 1914 , modernizou a gráfica importando da Alemanha uma impressora, a Koening-Bauer para substituir a impressora Marinori.
Dessa forma o jornal se tornou um espelho da Bahia nos seus múltiplos aspectos : do cultural ao político, sem deixar de passar pelo social.
E ele também se notabilizou pela carreira política, e foi político combatente. Sua combatividade levou o jornal a uma independência, o que gerou credibilidade até os nossos dias. E o jornal se tornou um canal de liberdade de expressão – essa é a sua vocação que vem dele, do percurso de vida que teve, na elegância, não apenas no vestir, nos modos de falar, no agir.“ A política nos nossos dias não prima pela elegância “, disse Samuel Celestino (coluna do dia 04/10/08 ) – mas ele, sem deixar de fazer política, nunca perdeu a elegância. O jornal tem também uma dimensão ecumênica : é cenário para todas as religiões – lá fala desde a Baia de Todos os Santos até a Bahia de Todos os Orixás .
Concluo lembrando S. Francisco, mas com uma citação que não é dele, é de Pitágoras, (VI a. C.). Mas o valor da busca da verdade ultrapassa os séculos e acompanha a trajetória dos homens e mulheres de bem – e há pessoas carismáticas, como Francisco, que retomam esses valores, em todos os tempos e em todas as religiões. Diz a citação:
“Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados , não conhecerá a saúde e nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor ...”

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